segunda-feira, 30 de julho de 2012

ABIMDE: Medidas viabilizadoras

 





Interesse das empreiteiras causa preocupação nas entidades do setor

Interesse das empreiteiras causa preocupação nas entidades do setor

Para o Valor, de São José dos Campos

A entrada das grandes empreiteiras na área de defesa e a estratégia definida pelo governo para fortalecer o setor tem gerado dúvidas entre as entidades do setor. O diretor do departamento de Indústria de Defesa da Fiesp (Comdefesa), Jairo Cândido, disse que essas empresas, apoiadas nas tecnologias das suas parceiras internacionais, têm fôlego financeiro, mas precisam definir suas vocações, porque do contrário estarão apenas explorando oportunidades de negócios, colocando em risco os objetivos de capacitação e fortalecimento da indústria brasileira de defesa.

Segundo Cândido, de todas as empresas que decidiram explorar negócios na área de defesa, motivadas inicialmente pelo programa de reequipamento das Forças Armadas, apenas duas possuem base industrial no país: Embraer e Odebrecht, que adquiriu o controle da Mectron, fabricante de mísseis e de sistemas eletrônicos.

"Tem que haver uma regra para essas empresas entrarem e isso ainda não está claro. Os grandes grupos são bem vindos, mas precisam definir um nicho e instalar uma indústria correspondente no país", ressaltou. As vantagens tributárias e condições especiais para a compra e desenvolvimento de produtos de defesa no país oferecidas pela Lei 12.958, criada em março, segundo Cândido, só deveriam beneficiar as empresas que efetivamente se comprometerem em desenvolver conhecimento no Brasil.

Para o presidente da Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança), Carlos Frederico Queiroz de Aguiar, a intenção do governo ao trazer as empreiteiras foi aliar a fortaleza econômica de grandes empresas nacionais ao "expertise" tecnológico de companhias brasileiras de menor porte na área de defesa e segurança, para interagir com grandes estrangeiras que agreguem as tecnologias necessárias aos projetos em curso.

"Esse modelo, se bem gerido, poderá fortalecer a capacidade nacional de absorção e desenvolvimento de tecnologias críticas no país", afirmou. O executivo lembra, no entanto, a importância de um fluxo contínuo de recursos ao longo de todo o cronograma dos programas para que não haja aumento dos custos e a evasão de recursos humanos. As empresas, na sua opinião, também não devem ter como meta apenas o mercado brasileiro, pois a demanda interna não será capaz de sustentar os altos custos de investimentos das empresas do setor.

Segundo Aguiar, a indústria de defesa brasileira tem potencial para exportar mais de US$ 7 bilhões nos próximos vinte anos. Já as vendas para o mercado interno foram estimadas em US$ 4,4 bilhões.

A Akaer, empresa especializada no desenvolvimento de aeroestruturas e em gestão de projetos para os setores aeroespacial e de defesa, é um exemplo do movimento que grandes grupos internacionais do setor tem feito para se estabelecer no mercado nacional. "Temos sido constantemente abordados por esse grupos e, mais recentemente, recebemos uma oferta do grupo francês Safran de comprar 80% do capital da Akaer, mas decidimos manter o controle da companhia, porque somos uma empresa estratégica para o governo brasileiro", afirmou o presidente da empresa, Cesar Augusto da Silva. Atualmente, segundo ele, 75% do faturamento da Akaer vem da área de defesa.

Para o executivo, quando surge uma oportunidade no país, as pequenas empresas ficam às margens do processo ou são absorvidas por grupos estrangeiros.

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Saiba mais sobre a ABIMDE (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança): http://www.abimde.org.br/
 
Saiba mais sobre o Comdefesa (Departamento da Indústria de Defesa da Fiesp): 
http://www2.fiesp.com.br/?temas=insdustria-da-defesa

Sisfron: a disputa na licitação do Exército

Sete grupos disputam licitação do Exército

 Sete consórcios liderados por empresas brasileiras do setor de defesa e por empreiteiras que estão iniciando suas atividades neste segmento estão finalizando as propostas para disputa da primeira etapa do Sisfron (Sistema de Monitoramento das Fronteiras), projeto orçado em cerca de US$ 6 bilhões e coordenado pelo Exército Brasileiro para ser concluído em dez anos. As propostas serão entregues amanhã. O valor do negócio atraiu tradicionais empresas americanas e europeias do setor de defesa.

Segundo o Valor apurou, a Embraer fechou parceria com a Atech, Orbisat e AEL Sistemas. A fabricante brasileira de aviões tem participação na Atech (50%) e uma joint venture com a AEL. Ainda na área de tecnologia, o Instituto C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), empresa com 16 anos de atuação, e a nova brasileira SDS (Synergy Defesa e Segurança), que oficialmente será apresentada amanhã, estão definindo suas propostas separadamente.

Entre as grandes empreiteiras, aparecem a Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão. A Odebrecht terá ao seu lado uma das maiores companhias do mundo no setor, a europeia Cassidian, além da Mectron e da IACIT Soluções. A OAS se associou à italiana Finmecânica (sic). O consórcio da Andrade Gutierrez tem a francesa Thales. A Queiroz Galvão vai para a disputa com a americana Northropp (sic) e a brasileira Flight Technologies.

Esta primeira etapa, de acordo com o Exército, consiste em um projeto piloto que contempla o monitoramento de aproximadamente 600 km de fronteira terrestre, na divisa do Estado do Mato Grosso do Sul com o Paraguai e a Bolívia. O vencedor da disputa poderá monitorar uma extensão de até 900 km nesta fase, em razão dos sensores, que contemplarão toda a área de responsabilidade do Comando Militar do Oeste.

O valor desta primeira licitação não foi informado. Segundo o Centro de Comunicação Social do Exército (Cecomcex), o valor depende das propostas a serem apresentadas pela empresas. Previsto para ser implementado de forma gradual ao longo de dez anos, o Sisfron está orçado em cerca de R$ 11,9 bilhões. Vai monitorar uma área total de 16,8 mil quilômetros quadrados de fronteira seca, envolvendo dez países, onze Estados e 588 municípios brasileiros.

O objetivo do projeto é ampliar o monitoramento da Amazônia e assim permitir que a tomada de decisões e as ações sejam feitas de forma mais eficaz e integrada com as diversas Forças Armadas e policiais. O funcionamento integrado se dará com tecnologia de ponta vinda de satélites, sensores, radares de vigilância, sistemas de tecnologia da informação e comunicações, optrônicos e recursos de defesa cibernética.

A Atech, empresa que a Embraer comprou 50% do capital social em 2011, foi contratada pelo Exército em 2011 para fazer o projeto básico do Sisfron e definir de que forma será feito o trabalho de vigilância do território e os equipamentos que serão utilizados. O trabalho da empresa custou R$ 17,2 milhões.

O presidente da Embraer Defesa e Segurança, Luiz Carlos Aguiar, disse que a exigência de conteúdo nacional nesta licitação deverá ser superior a 60%, e que este será um dos principais diferenciais da proposta que será apresentada pela companhia. "O nosso modelo de empresa está baseado no desenvolvimento de tecnologia nacional e de soluções para o governo brasileiro que depois poderão se tornar uma plataforma competitiva de exportação", afirmou.

Graças ao desenvolvimento de projetos para as Forças Armadas Brasileiras e também às vendas internacionais do Super Tucano, a Embraer prevê fechar o ano de 2012 com um faturamento de R$ 2 bilhões, cerca de 23% superior ao registrado em 2011. "Nosso 'backlog' [pedidos em produção] atual, de US$ 3,4 bilhões, mais que triplicou em relação ao número de 2006", ressaltou.

No primeiro trimestre deste ano, segundo Aguiar, a Embraer alcançou um crescimento de 32% na receita da área de defesa e segurança em relação ao mesmo período do ano passado. "Isso nos dá fôlego para investir em projetos e soluções e para ajudar no crescimento das nossas empresas adquiridas", comentou.

Aguiar destaca que 2012 tem sido um ano de concretização efetiva de negócios para a área de defesa. A modernização de aeronaves da Força Aérea Brasileira (caças F-5 e AMX), da Marinha (A-4), o desenvolvimento do novo avião de transporte militar KC-390, a prestação de serviços pela empresa Ogma, de Portugal e as vendas de Super Tucano realizadas este ano estão entre os principais projetos da área de defesa da Embraer em 2012.

Para o presidente da Cassidian Brasil, empresa que disputa a licitação do Sisfron sob a liderança da Odebrecht, Christian Gras, o Exército exige que 90% da produção dos equipamentos do projeto sejam feitos no Brasil. "A Mectron, que integra o nosso consórcio, é uma empresa 100% brasileira e está preparada para receber todas as tecnologias de interesse do governo brasileiro no Sisfron", afirmou.

Uma das gigantes mundiais em soluções e sistemas de segurança, a Cassidian pertence ao grupo europeu EADS, controladora também da Airbus. Com 28 mil funcionários, o grupo registrou receitas de € 5,8 bilhões em 2011. No Brasil, segundo Gras, a expectativa é de terminar o ano com um faturamento de € 100 milhões.

Parte do crescimento da empresa, segundo o executivo, será impulsionado por meio da joint-venture com a Odebrecht. Por conta das novas demandas do Brasil na área de defesa e segurança, a empresa tem planos de transformar o país em um dos três principais centros no mundo para o desenvolvimento de tecnologias.

(Virgínia Silveira, Valor, São Paulo e São José dos Campos)

domingo, 29 de julho de 2012

Governo terá plano de proteção de R$ 9,6 bi

Estado de S. Paulo, domingo, 29 de julho de 2012

Governo terá plano de proteção de R$ 9,6 bi

TÂNIA MONTEIRO - Agência Estado


O Brasil terá um sistema completo de proteção das instalações estratégicas do País, que será capaz de evitar invasões como a que ocorreu na usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, em fevereiro de 2008, quando integrantes do movimento dos atingidos por barragens chegaram à sala de operações e ameaçaram parar a distribuição de energia em grande parte do País.

Trabalho permanente. "O Exército deixará de trabalhar só na crise, mas de forma permanente, agindo preventivamente, diminuindo a vulnerabilidade das instalações estratégicas do País e de forma interligada com todos os órgãos responsáveis pela segurança do País", disse o general José Fernando Iasbech, gerente do Proteger.

Para a instalação do projeto, no entanto, conforme o general Peri, serão necessários mais meios e poderá haver necessidade de aumento de pessoal. Ele espera que os recursos para o projeto sejam incluídos na Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) de 2013. O general Iasbech diz que, para começar a instalação do projeto-piloto na Brigada de Cascavel, já foram liberados R$ 79 milhões para a compra de equipamentos para 500 integrantes do Exército, além de viaturas, barracas e equipamentos de comunicação.

O comandante do Exército acrescentou que "esta Brigada vai receber carros de combate Urutu novos, enquanto os Guaranis não chegam e será contemplada com prioridade também no recebimento de armamento individual novo, equipamentos de comunicação, como estações rádio e rádios de comunicação individual para que todos sejam interligados". Há ainda R$ 41 milhões contingenciados, aguardando a liberação. A prioridade é para a aquisição de produtos nacionais.

Na apresentação para Dilma, o general chamou a atenção que o novo projeto do Exército objetiva proteger 56% da matriz energética do País e, no caso de petróleo e gás, a produção de mais de 20 milhões de metros cúbicos de petróleo e derivados em terra, além de 20 mil quilômetros de dutos em operação e mais de 100 mil quilômetros de linhas de transmissão, sendo que só Itaipu é responsável por 17% da energia elétrica produzida no Brasil.

Alvos. Mas a proteção se estenderá ainda a todos os terminais portuários e aeroportuários, termelétricas e todo tipo de projeto estratégico, estruturas que correspondem a mais de 92% do PIB nacional. No total, são 371 locais que precisam ser permanentemente monitorados, 689 considerados de alto relevo e 13.300 classificados como de infraestrutura crítica.

Ainda segundo o gerente do Proteger, há empresas da área de hidrelétricas que já pedem auxílio aos peritos do Exército. "Já é o início do projeto na base de operação", disse o general.

Brasil tem produção diversificada de armas, mas não exporta muito

Da Folha de S.Paulo do domingo, 29 de julho de 2012.

Brasil tem produção diversificada de armas, mas não exporta muito

Venda de armamento convencional pelo país equivale a somente 0,1% do total mundial
Lista de compradores já teve Saddam Hussein e Gaddafi; lei recente prevê regime tributário especial para indústria 

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Apesar de mitos recorrentes, o Brasil não é nem nunca foi grande exportador de armas, embora tenha uma indústria bélica diversificada e que está de novo otimista quanto ao futuro do setor.

O que dava -e ainda dá- visibilidade à exportação de armas pelo Brasil é o ecletismo dos compradores e a ocasional descoberta de um negócio feito com clientes pouco recomendáveis.

No auge das exportações, dois dos melhores clientes eram os finados ditadores árabes Muammar Gaddafi (Líbia) e Saddam Hussein (Iraque). Também se descobriu agora venda de bombas ao ditador Robert Mugabe, no poder no Zimbábue desde 1980.

No ano passado, segundo o Sipri (Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo), o Brasil foi o 27º maior exportador de armas convencionais. Mas isso é só 0,1% do mercado mundial de armamento. Apenas um país, os EUA, exporta um terço das armas do planeta, com Rússia e França logo depois.

Mesmo no auge do comércio de armas pelo Brasil, de 1980 a 1992, a melhor colocação do país no mercado foi 10º, em 1985. Ainda assim, isso significava menos de 1% do total mundial nesse ano.
O país exportou para 28 nações nesse período, a maioria do Terceiro Mundo, mas incluindo França e Reino Unido, clientes de aviões da Embraer como o versátil Tucano.

O Sipri, porém, analisa só as vendas de armas importantes, como tanques, caças e navios, deixando de lado produtos como armas portáteis e munições. Se o conceito for ampliado para materiais de defesa em geral -incluindo fardamento, rações etc.-, a posição da indústria brasileira já não fica tão feia.

A Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança) tem 170 empresas associadas, das quais 35 exportam produtos e 20 o fazem com regularidade. Segundo a associação, elas geram cerca de 25 mil empregos diretos e 100 mil indiretos, movimentando mais de US$ 2,7 bilhões/ano, dos quais US$ 1 bilhão em exportação.

O otimismo da associação vem em parte da lei 12.598, sancionada em 22 de março passado. Essa lei criou o conceito de "empresa estratégica de defesa", que, por produzir equipamento considerado fundamental para a defesa do país, tem direito a regime tributário especial e financiamentos para projetos.

O documento que expõe a visão do governo sobre o tema, o Livro Branco de Defesa Nacional, foi enviado ao Congresso faz poucos dias. Nele se lê que, antes da lei 12.598, "as políticas do governo para o setor não se mostravam compatíveis com o crescimento da economia nem com as necessidades de equipamentos das Forças Armadas".

MERCADO INTERNO
 
Mais que nas exportações, a indústria de defesa está de olho na substituição de importações. Tradicionalmente, as Forças Armadas locais são os principais clientes de uma indústria de defesa.
Entre os principais projetos no Brasil estão o Sistema de Vigilância da Fronteira, o KC-390 (avião de transporte) e o Guarani (blindado sobre rodas), além de várias modernizações de aviões e navios.

"Cada vez mais as empresas brasileiras estão se apresentando como capazes de oferecer produtos e serviços com a qualidade requerida pelas Forças Armadas e órgãos de segurança pública", afirma Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, vice-presidente executivo da Abimde.

A associação espera que a demanda gere 60 mil novas vagas diretas e 240 mil indiretas em 2030. Mas mesmo esse cenário só colocaria a indústria brasileira de defesa em 15º lugar no ranking, ao mesmo tempo em que o país seria o 5º ou 6º PIB mundial.

País como uma das 'maiores indústrias de defesa' é mito persistente

DE SÃO PAULO


Um mito persistente, que dá voltas pela internet e às vezes pousa até na imprensa, é afirmar que o Brasil já teve uma das maiores indústrias de defesa do mundo.

Mesmo o Livro Branco de Defesa Nacional diz que a base industrial de defesa representou, há 30 anos, "importante segmento econômico, com relevante contribuição para a balança comercial".

De 1980 a 1992, o Brasil esteve em todos os anos, exceto 1981, entre os 20 maiores exportadores de armas, chegando à sua melhor colocação, o 10º lugar, em 1985. Depois de 1992, o país caiu fora da lista dos 20 maiores e não retornou desde então.

Pelas tabelas do Sipri, o recorde brasileiro de vendas foi em 1984, de US$ 269 milhões, o que colocou o país em 11º entre os exportadores. Naquele mesmo ano, a então União Soviética vendeu o equivalente a US$ 14 bilhões; os EUA, US$ 11 bilhões.

Em 1985, o ano em que o Brasil foi o 10º maior exportador, os números são US$ 202 milhões. Até a pequena Áustria vendeu mais armas nesse ano: US$ 330 milhões.

As exportações de armas brasileiras se concentraram na Engesa, fabricante de blindados como o Urutu e o Cascavel (que deverão ser substituídos no Exército pelo novo Guarani), na Embraer e, em menor grau, na Avibrás.

A Embraer é hoje a principal exportadora na área militar do país, com produtos como os aviões de treinamento e ataque leve Tucano e Super Tucano e as versões de avião-radar do EMB-145.

Com o fim da Guerra Fria, muito material bélico usado pode ser comprado a preços relativamente baratos. Sem uma política sustentada de compras pelas Forças Armadas, não há como atrair as indústrias brasileiras para voltar a produzir armamento.
 
'AMEAÇA'

Para Carlos Frederico Aguiar, que preside a Abimde, as ações do governo para consolidar sua base industrial de defesa são vistas "como ameaça" pelos principais produtores do mundo, o que mostra que o Brasil "poderá vir a ser um competidor a mais".

Aguiar, também presidente da Condor, com sede no Rio, comentou a foto publicada pela Folha em 23 de julho com um menino sírio segurando bomba de gás lacrimogêneo da sua empresa lançada pela polícia turca.

"A foto demonstra que a Turquia, diferentemente de países como Líbia e Síria, vem adotando soluções de uso diferenciado e proporcional da força, conforme orientação da ONU, de maneira a preservar a vida e os direitos humanos."

Análise 

Produção bélica brasileira se reorganiza como em outros países
 
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Considerações humanitárias à parte, e elas são várias, a reorganização da produção bélica brasileira em curso não é nada diferente do que aconteceu em países industrializados de grande porte.

O setor vive de benesses diretas ou indiretas do Estado desde a corrida armamentista de Reino Unido e Alemanha na virada do século 20.

Nos EUA e na Rússia, os maiores exportadores, o fim da Guerra Fria determinou a concentração na área. Antes, fabricantes diferentes disputavam contratos dentro do "complexo industrial-militar", termo celebrizado no discurso-denúncia de despedida do presidente dos EUA Dwight Eisenhower em 1961.

Sem um inimigo e com um mercado a conquistar, as indústrias dos EUA passaram por fusões: a Boeing engoliu a célebre McDonnell-Douglas, por exemplo. Na Rússia, as empresas aeronáuticas Mikoyan, Sukhoi, Ilyushin e Tupolev ficaram sob controle único. Na Europa, a EADS virou uma potência.

No Brasil, as grandes exportadoras incentivadas pelo governo na ditadura quebraram e ressurgiram, em parte, sob as bênçãos do Estado -a parte civil da Embraer sendo a exceção.

A empresa aeronáutica saiu na frente e organizou uma divisão de defesa, indo além de aviões consagrados como o Super Tucano. Também adquiriu empresas de tecnologia militar, como Atech e Orbisat.

O governo estimulou gigantes com dinheiro a entrar na área, criando um arcabouço jurídico favorecendo conteúdo com participação nacional. A francesa Thales, por exemplo, uniu-se à empreiteira Andrade Gutierrez visando defesa de fronteiras.

Já a Odebrecht é subcontratada da DCNS francesa para fazer o novo estaleiro de submarinos, associou-se a uma subsidiária da EADS e comprou a Mectron (mísseis).

O foco inicial é o Brasil, com demanda adicional de segurança para grandes eventos (Copa e Olimpíada), mas América Latina, África e Ásia/Oceania estão na mira.

Ditaduras e violadores de direitos humanos deverão estar entre clientes futuros, como no passado. Não é exclusividade brasileira: a Alemanha, cujo pacifismo está na Constituição, é a terceira vendedora de armas do mundo.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Empresas de Defesa: as 100 maiores do mundo


Os gastos mundiais em Defesa no ano passado, segundo o SIPRI (Stockholm International Peace Research Institute), atingiram a marca de US$ 1,7 trilhão.

No mais recente ranking da Defense News, referente às 100 maiores empresas de Defesa do mundo em faturamento no ano de 2011 ( http://special.defensenews.com/top-100/charts/rank_2011.php?c=FEA&s=T1C ), alguns dados interessantes:

- Apenas os Estados Unidos respondem por mais de 40% dos gastos mundiais em defesa e, até por conta disso, sete empresas norte-americanas figuram entre as dez maiores empresas de defesa do mundo.

- Os dez maiores grupos empresariais de Defesa do mundo em 2011, em faturamento, foram: Lockheed Martin, Boeing, BAE Systems (Reino Unido), General Dynamics, Raytheon, Northrop Grumman, EADS (grupo europeu), Finmeccanica (Itália), L-3Communications e United Technologies.

- O Brasil conta com uma única empresa entre as 100 maiores do mundo: a Embraer, que em 2011 subiu 13 posições e agora ocupa a 74ª colocação.

- Dos países que fazem parte dos BRICs, a Rússia conta com sete empresas nesse ranking, enquanto que a Índia possui duas empresas. A China não consta nesse ranking, mais por conta da falta de transparência com relação aos números voltados ao mercado de Defesa, uma vez que o país possui grandes grupos empresariais atuantes no setor.

- A América do Norte (EUA e Canadá) é responsável por 46% dos maiores grupos empresariais atuantes na área de Defesa no mundo; a Europa vem em seguida com 37% e a Ásia com 16%. O um 1% restante vem da América Latina, encabeçada pelo único representante brasileiro.