Jornal do Brasil, internet, 14/08/2013
O fortalecimento da defesa aérea do país esteve em pauta na
tarde desta terça-feira (13) na Comissão de Relações Exteriores e Defesa
Nacional (CRE) do Senado. Oficiais da aeronáutica, senadores e deputados
debateram a compra, pela Força Aérea Brasileira (FAB), de 36 aeronaves de caça
estrangeiras, com transferência de tecnologia para o Brasil. No debate, o
comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, afirmou que a presidente Dilma
Rousseff já declarou que tomará a decisão "em curto prazo".
O presidente da CRE, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES),
explicou que o chamado Projeto FX-2 da FAB começou em 2001, tendo esse primeiro
processo se encerrado em 2005 – por conta da conjuntura econômica nacional –
sem a compra definitiva de caças. Ferraço contou que foi adotada uma posição
paliativa, com a compra de caças usados. Ele lembrou que os aviões de caça
Mirage 2000 serão aposentados no último dia de 2013 e manifestou preocupação
com o que chamou de “fragilidade do espaço aéreo” brasileiro.
F-2000 - o avião que será desativado...
F-5M - solução interina...
"Essa situação coloca o país em um iminente apagão
aéreo", alertou o senador, acrescentando que o Congresso Nacional confia
na Aeronáutica.
Para Ferraço, a aquisição de aeronaves é importante para a
posição estratégica do Brasil, que é uma liderança na América Latina, tem
projeção mundial e almeja mais protagonismo na Organização das Nações Unidas
(ONU). A nova fase do Projeto FX-2, explicou o senador, começou em 2008 e
consiste na aquisição de 36 aeronaves de caça “de múltiplo emprego”, incluindo
itens como os simuladores de voo correspondentes, a logística inicial e a
transferência de tecnologia “necessária para a capacitação do parque industrial
aeroespacial brasileiro no desenvolvimento de um caça de quinta geração”.
Monitoramento
O comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, disse que, o país
possui equipamentos compatíveis para fazer face às necessidades da defesa
nacional. Ele ressaltou, porém, que o projeto FX-2 complementaria a segurança
do país. Saito lembrou que o monitoramento de defesa do Brasil chega a 22
milhões de metros quadrados, considerando as regiões de tratado internacional.
"Quem controla o espaço e faz defesa aérea dá proteção
ao país", disse.
Sobre os modelos selecionados, o comandante Saito
acrescentou que a Presidência da República já tem as informações sobre as preferências
da Aeronáutica e já estaria em condições de tomar uma decisão sobre a compra
dos caças. Segundo Saito, Dilma Rousseff tomará a decisão “em curto prazo”. Ele
informou que, depois de decidida a compra, a entrega dos aviões pode demorar
entre quatro e seis anos.
Ainda de acordo com Juniti Saito, o relatório sobre a compra
dos aviões foi entregue ao Ministério da Defesa no início de 2010. O comandante
admitiu que a análise da Aeronáutica é mais técnica, enquanto a do governo é
mais política. Ele negou, porém, que exista conflito com o Ministério da
Defesa.
Segundo Saito, a Aeronáutica trabalha na aquisição de caças
modernos desde o ano de 1995. Ele afirmou que os adiamentos no processo têm
mais a ver com a questão orçamentária e negou que a Aeronáutica faça pressão
sobre o governo. Saito ainda informou que os Mirage 2000, que serão retirados
de uso no fim do ano, deveriam ter sido desativados já em 2011, por conta das
horas de voo, e informou que a Aeronáutica vai receber caças F-5 modernizados.
Ele admitiu que a situação não é a ideal, mas que a Aeronáutica “faz o
possível”.
"Vários prismas"
O presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave
de Combate (Copac), brigadeiro José Augusto Crepaldi Affonso dos Santos,
explicou que a FAB planeja a aquisição de uma nova aeronave com base na análise
dos riscos da construção ou da aquisição e dos desafios tecnológicos e
logísticos. E informou que algumas aeronaves brasileiras chegam a voar 40 anos,
pouco acima da média mundial.
Affonso dos Santos disse que as ofertas de compra são
“exaustivamente” analisadas sob vários prismas, inclusive sobre a possibilidade
de transferência de tecnologia. Uma das exigências é a efetividade do caça na
defesa aérea, no ataque aéreo e no ataque ao solo. A junção dessas ações em uma
mesma aeronave, disse Affonso dos Santos, diminui os custos para o país. Ele
lembrou que, desde 2008, três aeronaves foram selecionadas como possíveis
objetos de compra: Boeing F-18E/F Super Hornet (norte-americano), Dassault
Rafale F3 (francês) e Saab Gripen NG (sueco). O desafio, segundo o presidente
da Copac, é a comparação entre as características técnicas das aeronaves.
"O projeto FX-2 vai representar um grande salto
tecnológico para o país", declarou.
Os candidatos: Boeing F/A-18, Saab Gripen NG, Dassault Rafale
Transferência de tecnologia
Ricardo Ferraço enfatizou que a compra desses aviões de
guerra deve ter como característica prioritária a transferência de tecnologia
para o Brasil por parte do país escolhido como vendedor. O objetivo é que essa
transferência de conhecimento ajude no desenvolvimento das capacitações
tecnológicas nacionais, de modo a eliminar, progressivamente, a compra de
serviços e produtos importados, e possibilitar a produção nacional de um caça.
Respondendo à senadora Ana Amélia (PP-RS), o comandante
Juniti Saito informou que há diferenças na forma da transferência de tecnologia
de cada modelo. Integridade estrutural, sensores, fusão de dados e integração
de motores estão entre as áreas que a Aeronáutica receberia tecnologia.
"Não estamos apenas comprando um avião de prateleira. A
transferência de conhecimento é importante. É fazendo junto que a gente aprende
a tecnologia", afirmou Saito.
Para o deputado Carlos Zaratini (PT-SP), a transferência de
tecnologia é parte fundamental desse processo. Ele disse que, conforme
informações recebidas, o projeto sueco teria mais transferência de tecnologia,
ao contrário da empresa americana, cuja transferência de conhecimento ficaria
dependente de autorização do Congresso dos Estados Unidos.
Informações da Agência Senado
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