ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE / PARIS - O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff confirmou na viagem à França,
semana passada, o adiamento por tempo indeterminado da decisão sobre a compra
de 36 aviões de caça para a Força Aérea Brasileira (FAB). Tampouco deu pista
sobre um eventual favorito no projeto FX-2. Mas Serge Dassault, presidente de
honra da Dassault Aviation, fabricante dos caças franceses Rafale, reconhece:
os americanos F-18 Super Hornet, da Boeing, são hoje os favoritos de Brasília.
Os indicativos foram dados pelo industrial no jantar de gala
oferecido na terça-feira pelo presidente da França, François Hollande, a Dilma.
Dassault, de 87 anos, reconhece as dificuldades que sua empresa enfrenta para
convencer o atual governo brasileiro a investir nos Rafale, e não em um de seus
concorrentes: o Super Hornet, da Boeing, e o Gripen NG, da sueca Saab.
Além de reconhecer o poder de convencimento dos rivais -
"os americanos estão fazendo uma força terrível" - e dos problemas de
câmbio - "os Rafale custam mais caro por causa da relação entre o euro e o
dólar" -, Dassault reconhece que a relação entre a companhia e os governos
francês e brasileiro esfriou desde a posse de Dilma Rousseff. "Ela é mais
preocupada com os problemas financeiros, o que é normal", disse. Segundo
ele, "a relação com Lula era mais simpática, mais aberta".
"Infelizmente ele não tomou a decisão no melhor momento."
Nos últimos meses, três fontes diferentes da diplomacia
francesa reconheceram ao Estado que as críticas feitas pelo governo de Nicolas
Sarkozy às negociações realizadas por Brasil e Turquia sobre o programa nuclear
do Irã, em 2010, geraram grande insatisfação em Lula, que teria decidido
congelar a compra dos Rafale.
O desafio do Ministério da Defesa francês desde então é
encontrar um novo tom para as negociações. O ministro Jean-Yves Le Drian evita
até elencar a concorrência dos caças brasileiros entre as prioridades da
diplomacia de Paris. "Não creio que o Rafale tenha sido um assunto",
disse ele, sobre os encontros entre Dilma e Hollande. Indagado sobre por que o
tema saiu da mesa de negociações, respondeu: "Porque a meu ver as escolhas
estratégicas do Brasil em termos de defesa se voltaram mais para o mar".
O ministro brasileiro da Defesa, Celso Amorim, monstrou a mesma
despreocupação sobre o assunto. "Não há nenhuma novidade", disse.
Amorim disse estar satisfeito com a nova postura francesa. "Há muito
respeito da parte deles sobre o momento de o Brasil tomar uma decisão."
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