Por Virgínia Silveira | Para o Valor, de São Paulo
Valor, 16 de novembro de 2012
A Atech vai participar diretamente do desenvolvimento do
reator do futuro submarino nuclear brasileiro. A empresa, do grupo Embraer,
venceu a licitação da Marinha e ficará responsável pelo desenvolvimento do
sistema de controle do laboratório de geração núcleo-elétrica, conhecido pela
sigla Labgene, considerada a parte principal e mais complexa do reator.
A concorrência, segundo o presidente da Atech, Tarcísio
Takashi Muta, foi realizada em âmbito nacional, já que o objetivo é dominar a
tecnologia do sistema de controle da propulsão nuclear.
"A empresa fará a integração do sistema e o
desenvolvimento do software de controle, tecnologias que não são vendidas e nem
transferidas", destacou o diretor do Centro Tecnológico da Marinha em São
Paulo, vice-almirante Carlos Passos Bezerril. Com o projeto do Labgene, o
Brasil, segundo ele, será o primeiro país da América Latina a ter o domínio da
tecnologia de controle da propulsão e do combustível nuclear.
O diretor também lembrou que o desenvolvimento do reator irá
envolver a participação de 80 empresas nacionais, na parte de construção civil
e mecânica, química, materiais, engenharia naval, entre outras.
A disputa para o desenvolvimento do sistema de controle do
reator nuclear envolveu também a Odebrecht e o contrato está avaliado em R$ 231
milhões, informou o executivo da Atech. O prazo para a execução do projeto é de
três anos e meio, mas a qualificação do reator para ser utilizado no primeiro
submarino está prevista para 2018. O contrato representa três anos e meio de
faturamento para a Atech e exigirá a contratação de 40 funcionários.
Orçado em R$ 800 milhões, o Labgene é uma unidade nuclear de
geração de energia elétrica, que será projetada e construída no país. Essa
instalação, que está sendo erguida no Centro Experimental Aramar (CEA), em
Iperó (SP), servirá de base e de laboratório para qualquer outro projeto de
reator nuclear no Brasil.
O CEA, inaugurado em fevereiro deste ano, abriga a unidade
produtora de Hexafluoreto de Urânio (matéria-prima para o enriquecimento de
urânio, que produz o combustível nuclear para as usinas) e o Centro de
Instrução e Adestramento Nuclear Aramar (Ciana), encarregado de formar mão de
obra para o Labgene e também para as futuras tripulações dos submarinos
nucleares brasileiros.
O vice-almirante Bezerril explica que o Labgene é também um
protótipo em terra do sistema de propulsão naval que, por sua vez, permitirá a
obtenção da capacitação necessária para readequá-lo ao submarino nuclear.
"É um laboratório que testará todos os equipamentos, semelhante a uma
planta nuclear, antes de colocar o reator no submarino."
A Atech vai aplicar a sua experiência em gestão e integração
de sistemas complexos às normas e requisitos específicos da área nuclear. Parte
dessa expertise, segundo o presidente da empresa, foi adquirida com a
participação no Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), onde conquistou o
domínio completo da inteligência do projeto.
A Atech figura entre as dez empresas no mundo que dominam a
tecnologia do controle de tráfego aéreo, o que permitiu que o país atingisse a
autonomia no gerenciamento do seu espaço aéreo.
Além de dar autonomia para o país na área de sistemas de
controle de geração de energia nuclear, a tecnologia desenvolvida para o
Labgene, segundo Takashi, terá aplicação dual. "A partir desse núcleo
poderemos suportar as atividades da Marinha na área nuclear e modernizar os
simuladores de operação para as usinas de Angra 1 e 2", explicou.
Objetivo é reduzir dependência externa
Por Para o Valor, de São Paulo
O domínio da tecnologia de controle de propulsão nuclear,
segundo o presidente da Atech, Tarsício Takashi Muta, será uma experiência
similar a que a empresa viveu na época da crise aérea no Brasil, entre 2007 e
2008. "Fomos acionados pela Aeronáutica e tivemos que mobilizar muita
gente para modernizar o sistema nacional de controle de tráfego aéreo."
Segundo o executivo, o novo sistema, batizado de Sagitário
(Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios
de Interesse Operacional) tornou o Brasil menos dependente de outros países,
pois o domínio da tecnologia garante a evolução do sistema e a autonomia nesse
segmento.
Para o projeto do Labgene, a companhia vai trabalhar em
parceria com outras empresas e a Embraer, segundo Takashi, deverá participar
trazendo a experiência na área de licença de exportação de componentes e
subsistemas considerados sensíveis, devido a sua aplicação na área nuclear.
"Parte dos componentes do Labgene serão comprados fora
do país e a experiência da Embraer será muito importante na hora de negociarmos
essas licenças de exportação com as empresas de fora", explica o diretor
de Mercado-Defesa da Atech, Giacomo Feres Staniscia. Alguns subsistemas, no
entanto, deverão ser desenvolvidos no país por se tratarem de itens controlados
e de difícil aquisição no mercado externo.
A Atmos, por exemplo, segundo o diretor, será uma das
empresas brasileiras escolhidas para o desenvolvimento de um dos mecanismos de
controle do processo de geração nuclear.
A Atech já atua no projeto do submarino nuclear brasileiro
como subcontratada da francesa DCNS, na parte de absorção de tecnologia de
sistemas de combate. No acordo feito pelo governo brasileiro com as empresas
francesas, está previsto o fornecimento de quatro submarinos convencionais e a
transferência de tecnologia do casco do submarino de propulsão nuclear. (VS)
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