O Estado de S. Paulo, 03 de novembro de 2012
ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE - Agencia Estado
PARIS - Sob nova administração desde maio, quando o
presidente socialista François Hollande assumiu o Palácio do Eliseu, a França
quer recomeçar os contatos na área de Defesa com o Brasil falando menos em
negócios e mais em "parcerias militares". A mudança na estratégia,
que tira os caças Rafale do foco das atenções, será visível neste fim de
semana, quando o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, chega ao
Brasil para uma visita oficial.
Le Drian desembarca em Brasília domingo e fica até segunda-feira.
Nesse meio tempo, cumpre duas agendas oficiais: encontro com o ministro Celso
Amorim e com industriais franceses instalados no Brasil.
A mudança de discurso do governo francês em relação à venda
dos Rafale já é perceptível em diferentes escalões e vale não só para o Brasil,
mas também para os Emirados Árabes Unidos, outro cliente em potencial.
Na visão do ministro, a ênfase dada à venda de equipamentos
durante a gestão do ex-presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012) atrapalhou as
relações bilaterais e não resultou na venda dos 36 caças ao Brasil - um
contrato estimado em cerca de ? 4 bilhões.
A ideia agora é separar os papéis. De um lado, o Ministério
da Defesa da França vai tentar estreitar os laços políticos, sem enfatizar os
negócios. De outro, as empresas envolvidas, como a Dassault, fabricante do
avião, terão de propor o melhor negócio possível. Há três semanas, a companhia
incluiu os radares RBE2 AESA na proposta da empresa, que disputa a seleção
F-X2, iniciada há 17 anos, mas ainda sem resposta. Para tanto, a Dassault teve
o aval da Direção Geral de Armamentos (DGA), órgão subordinado ao Ministério da
Defesa.
"Queremos centrar a nossa viagem na parceria
estratégica entre os dois países", afirmou ao Estado uma fonte envolvida
nas discussões bilaterais. "Temos uma visão diferente do governo anterior:
queremos uma relação de Estado a Estado. Não vamos ao Brasil vender material
bélico, e sim aprofundar o diálogo político. Depois os industriais farão o
resto."
A opção por uma abordagem menos comercial visa a reduzir o
efeito negativo que o assédio constante do governo Sarkozy teria provocado no
Brasil e nos Emirados Árabes. Em recente entrevista ao jornal Le Parisien, Le
Drian afirmou que não evocaria a venda de 60 caças em sua visita ao Golfo
Pérsico, realizada no final de outubro. "Um ministro da Defesa se dirige a
parceiros, e não a clientes. Ele não chega com um catálogo embaixo do braço. Se
a França não vendeu os Rafale, é porque confundiu os papéis."
Pelo menos no que se refere aos Emirados Árabes, o ministro
reconheceu que as relações bilaterais foram prejudicadas. "O caso
envenenou nossas relações nos últimos 18 meses", disse ele. "Os
Emirados Árabes efetuavam 70% de suas despesas militares na França, e passaram
a 10%."
Apesar do discurso mais político, a expectativa de que o
governo brasileiro possa anunciar nas próximas semanas a aquisição de caças
Rafale para a Força Aérea Brasileira (FAB) começa mais uma vez a aumentar em
solo francês. O motivo é a visita que a presidente Dilma Rousseff fará a Paris
em dezembro, quando se encontrará pela primeira vez com Hollande.
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