Por Alberto Komatsu, de São Paulo.
As três companhias aéreas de médio porte do país, Avianca,
Azul e Trip protagonizam um cenário de competição sem precedentes na história
da aviação brasileira, avaliam especialistas e executivos ouvidos pelo Valor.
A escolha por cidades de média e baixa densidade
populacional, onde o PIB cresce acima do dos grandes centros, é um dos motivos
que explicam o crescimento superior ao do setor. Serviços de bordo com mais
qualidade e gratuitos, além de maior distância entre os assentos, também
contribuem.
As companhias crescem no vácuo das líderes TAM e Gol. De
janeiro a julho, Avianca, Azul e Trip, juntas, acumulam taxa média de ocupação
dos aviões de 75,36%, ou 5,46 pontos percentuais a mais ante à taxa combinada
de TAM e Gol.
Os especialistas, contudo, enfatizam a base de comparação.
Com frota menor do que TAM e Gol, qualquer nova aeronave incorporada por
Avianca, Azul ou Trip alavanca o crescimento. Eles lembram que TAM e Gol estão
reduzindo a oferta, para melhorar a rentabilidade, com o aumento da taxa média
e ocupação dos aviões. As empresas de médio porte, portanto, captam passageiros
das duas maiores já que parte de seus voos compete diretamente com TAM e Gol.
Na Azul, 20% da malha diária de 400 voos compete com o duopólio. Na Trip, com
390 voos diários, a proporção é de um terço.
"A situação financeira faz as empresas repensarem a
oferta. As grandes promovem uma oferta maior do que o potencial das cidades,
não acompanhando a evolução da demanda, o que leva a taxas de ocupação mais
baixas", diz o especialista em aviação da Coppe/UFRJ, Elton Fernandes.
"O crescimento da demanda dos aeroportos menores foi mais intenso do que
os maiores", afirma.
O vice-presidente comercial e de marketing da Avianca,
Tarcisio Gargioni, afirma que a empresa está "com o pé no
acelerador". "Temos mais seis aviões para trazer, vamos crescer mais
50% enquanto o mercado deve crescer 7%", diz.
Enquanto TAM estima uma redução de oferta de até 2% em 2012,
a Gol prevê um recuo de até 4,5%. A Avianca ampliou de cinco para oito a
quantidade de aviões novos na frota, totalizando 34 aeronaves até o fim desde
ano, um investimento de US$ 350 milhões. Em 2011, eram 26 aviões.
A taxa média de ocupação dos aviões no país, em julho,
alcançou 79,45%, o maior nível histórico para o período, segundo a Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac). O mesmo dado no acumulado dos sete primeiros
meses do ano, de 71,41%, contudo, está abaixo da média mundial de 78,7%, no
mesmo período, e indica que ainda há mais oferta do que demanda.
"A atual taxa de ocupação dos aviões não aponta para
uma superoferta. Mas existe um desafio de capacidade que foi implementado num
curto prazo por todas as empresas que ainda não foi completamente absorvido
pelo mercado", diz o presidente da Trip, José Mario Caprioli, que será o
principal executivo da Azul, a empresa resultante da fusão entre a Azul e a
Trip.
Segundo Caprioli, a integração das duas aéreas, incluindo os
certificados técnicos e operacionais, deverá ser obtida até o fim do primeiro
semestre de 2013. Com mais escala, as duas passarão a ter em torno de 120
aeronaves. Ele estima que a atual taxa de crescimento combinado mensal de
demanda das duas companhias, de 44,6% em julho, deverá se acomodar num patamar
menor, entre 20% e 25%.
"O desempenho histórico da tarifa média nos últimos dez
anos mostra que ela caiu pela metade. Falta responsabilidade para encontrar uma
tarifa de equilíbrio", diz o assessor econômico do Sindicato Nacional dos
Aeronautas, Claudio Toledo. Levantamento de preços de passagem entre Cuiabá e
Porto Alegre, onde as cinco empresas operam, mostra diferença de até 76,4%,
para um voo no dia 17 e volta no dia 2 de setembro.
"Vemos um ambiente competitivo jamais experimentado no
país. A gente vive um momento de expansão das médias empresas e de reflexão da
TAM e da Gol. Há uma nova realidade de lutar por escala", diz o diretor de
comunicação da Azul, Gianfranco Beting.
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