Concorrência para compra de caças para a FAB
continua sem definição
Após confirmar, neste ano, negócios bilionários
envolvendo compra de helicópteros e submarinos franceses, e decidir, com
vitória da Embraer, a primeira etapa, de US$ 1 bilhão, do Sistema Nacional de
Monitoramento de Fronteiras (Sinfron), o governo deixou em segundo plano a
polêmica licitação para a renovação da esquadrilha de caças da Força Aérea
Brasileira (FAB).
O ministro da Defesa, Celso Amorim, que chegou a falar
sobre a expectativa de ver a compra dos caças decidida ainda neste ano, agora
diz não ter data confirmada para a decisão. Consultado na semana passada, em
visita à França, o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, disse
apenas que a questão está em análise na Presidência da República.
No governo, ninguém se arrisca a prever um desfecho
para a concorrência que, em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
durante visita ao Brasil do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, indicou estar
vencida pela Dassault. No início de 2012, emissários do governo dos Estados
Unidos e da Boeing informaram ao governo brasileiro ter garantias do Congresso
em relação à transferência de tecnologia, numa dimensão não realizada até hoje
com nenhum parceiro dos americanos.
No fim do primeiro semestre, a Gripen, sueca,
terceira concorrente da disputa, entregou ao governo nova proposta de venda do
Gripen NG, atualizando valores e condições de pagamento, no que é considerado,
pelo Ministério da Defesa, apenas uma revisão rotineira. Os concorrentes atacam
o Gripen com o argumento de que é um avião ainda em testes. Os suecos propõem
desenvolver o caça com apoio de empresas brasileiras.
O governo brasileiro assiste com curiosidade a
movimentação da Boeing, que passou, neste ano a ser dirigida, no Brasil, pela
ex-embaixadora americana no país Donna Hrinak. Ativa, Donna, que neste mês
preside uma grande festa em Brasília pelos 80 anos da Boeing, tem feito
contatos com autoridades, políticos e imprensa para defender a proposta
americana, que é vista com desconfiança no governo pelas restrições existentes
no país à transferência de tecnologia sensível - ponto fundamental para a
decisão do governo brasileiro.
A Boeing tem anunciado compromisso de transferir
tecnologia e convidar firmas brasileiras, como a Embraer, para participar de
outros projetos da empresa nos EUA. O Ministério da Defesa argumenta que a
decisão sobre os aviões da FAB independe do Orçamento de 2013, recém-enviado ao
Congresso, porque o tempo necessário para terminar as negociações do contrato
de compra adiará os primeiros desembolsos para além do ano que vem.
A presidente Dilma Rousseff, nas mãos de quem está
a decisão sobre a retomada ou não das negociações, não deu nenhuma indicação a
seus auxiliares sobre o tema, nas últimas semanas, apesar do intenso lobby das
empresas. (SL)
Jornal Valor Econômico, 4 de setembro de 2012
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