Até 2015,
devem ser criados 24.500 empregos. Qualificar mão de obra é desafio da área
RIO - Se, em 2003, o setor naval empregava três mil pessoas no Brasil, hoje conta com 62 mil trabalhadores. E, até 2015, a previsão é de que sejam gerados pelo menos 24.500 novas vagas, de acordo com estimativa do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). A demanda maior é por engenheiros, técnicos e operários especializados, que, com o sucateamento da indústria nacional, acabaram migrando para outros campos. É mais uma área que enfrenta o desafio, hoje comum no país, de qualificar mão de obra para atender à demanda crescente.
— O
aquecimento da construção naval no Brasil e no Rio de Janeiro resulta da
demanda por transporte marítimo e fluvial, que aumentou com o crescimento do
país e o desenvolvimento das regiões Nordeste e Norte, e da demanda do segmento
offshore — explica o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, que acrescenta: —
A produção de petróleo em águas ultraprofundas requer equipamentos antes
inexistentes. E, além disso, a frota brasileira de navios petroleiros estava
atingindo sua idade limite (acima de 20 anos), sendo necessária a sua
renovação.
A OSX,
empresa do grupo EBX que atua no segmento naval e offshore e nasceu em 2009,
prevê 14 mil vagas até o final de 2015 — sendo quatro mil na fase atual, de
construção, e dez mil na etapa de operação da Unidade de Construção Naval (UCN)
do Açu, o maior estaleiro das Américas, localizado no Superporto de Açu, em São
João da Barra. Números até maiores do que os calculados pelo sindicato.
— É uma
Disneylândia para engenheiros — brinca Danilo Baptista, diretor da OSX
Construção Naval, cuja UCN começará a operar parcialmente no primeiro trimestre
de 2013 e deverá estar concluída em junho de 2014.
A empresa
se associou ao Senai para qualificar mão de obra no projeto do Instituto Naval
Tecnológico (ITN), lançado pela OSX para qualificar 3.100 pessoas em 23 funções
até 2013.
— Cerca
de 40% do pessoal sairá dos cursos do ITN. O resto virá do mercado — diz
Baptista.
A
Petrobras, companhia que mais impulsiona o crescimento do setor, prevê a compra
de 32 FPSOs (plataformas de produção), 33 sondas de perfuração e 88 navios petroleiros
até 2020.
—
Esperamos um ciclo de trabalho com cinco mil profissionais ao longo de 2013 —
afirma Gilberto Camargo, diretor do EEP (Estaleiro Enseada do Paraguaçu),
empresa contratada pela Petrobras para trabalhar no Estaleiro Inhaúma.
Uma demonstração
de que o setor está não apenas se recuperando, mas também se modernizando, é o
grande número de mulheres inscritas nos cursos do ITN da OSX: 49% contra 51% de
homens.
— É uma
área de atuação que exige muito fisicamente, por isso, historicamente, talvez
não atraísse tantas mulheres. Agora, com mais conforto e segurança no setor,
esse cenário começa a mudar — avalia Danilo Baptista, diretor de construção
naval da OSX.
Todos os
formando poderão ser contratados
Entre os
cursos oferecidos pelo ITN, há opções para caldeireiros, mecânicos,
eletricistas, soldadores, pintores e operadores de máquinas, entre outros. No
primeiro ciclo do instituto, foram oferecidas 3.100 vagas, para as quais se
inscreveram 19 mil candidatos — destes, 880 participam da primeira fase de
formação.
— Se
tiverem bom rendimento, todos poderão ser contratados ao fim do curso — diz
Baptista.
A
Petrobras também aposta em parcerias com o Senai para qualificar mão de obra
para atuar em seus investimentos navais, além de aproveitar egressos do Prominp
(Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural), que
também forma pessoal para atuar nos empreendimentos do setor.
— Ainda
este ano vamos capacitar 300 pessoas em cursos de eletricista e montador. O
recrutamento não será via concurso, mas vamos procurar dar prioridade aos
moradores do entorno da instalação — afirma Gilberto Camargo, diretor do EEP
(Estaleiro Enseada do Paraguaçu), empresa contratada pela Petrobras para
trabalhar no Estaleiro Inhaúma.
Embora a
demanda maior seja por profissionais de nível técnico, a retomada do setor
naval também abre oportunidades para carreiras de nível superior: engenheiros
(além de naval, mecânico, elétrico, metalúrgico, de automação, químico, civil,
ambiental e telecomunicações), administradores, contadores e profissionais da
área de logística, sustentabilidade e marketing também encontrarão campo de
atuação em função dos investimentos da indústria.
— Existem
muitas carências. A retomada do crescimento mostrou que o país forma poucos
engenheiros. Para o setor naval, além de engenheiros navais, são necessários
engenheiros de outras habilitações. Também é muito importante pensar na
formação de técnicos com formação diferenciada, que possam atuar na indústria
considerando o seu desenvolvimento tecnológico no futuro. Além disso, há
necessidade de pessoal para atuar na produção e na gestão de empreendimentos —
destaca o diretor técnico da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena)
e professor do departamento de Engenharia naval da UFRJ, Luiz Felipe Assis.
Procura
por curso na UFRJ aumenta
Essa
demanda começa a se refletir nas universidades. O curso de Engenharia Naval e
Oceânica da Escola Politécnica da UFRJ, de 2001 a 2006, formava cerca de 20
engenheiros por ano. Desde 2007, esse número vem dobrando, tendo atingido seu
ápice em 2009, quando 56 engenheiros navais se formaram.
— Temos recebido
com frequência crescente solicitações de empresas para divulgação de
oportunidades de estágio e de trabalho. Todos os alunos formados nos últimos
anos têm encontrado facilidade de colocação no mercado — destaca o engenheiro
naval e professor da Politécnica, José Henrique Erthal Sanglard.
O Centro
Universário da Zona Oeste (Uezo), inclusive, está com um processo de seleção em
curso para professores adjuntos do curso de Tecnologia em Construção Naval.
— A
remuneração base da construção naval é muito atraente. E a realidade dá mostras
de que a demanda neste setor prosseguirá pelos próximos 20 anos — conclui
Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval.
Fonte:
Maíra Amorim, O Globo
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