O Estado de S. Paulo, 16 de setembro de 2012
Os programas estratégicos das três Forças Armadas
brasileiras para as próximas duas décadas somam R$ 124 bilhões em
investimentos. Todos orientados para a transferência e o desenvolvimento de
tecnologia no Brasil, com o objetivo de formar um parque industrial bélico no
País. Os sete projetos estratégicos do Exército representam quase metade desse
total: R$ 57,03 bilhões, de acordo com levantamento feito pelo Estado (ver
acima)
A Força Aérea Brasileira pretende comprar 120 caças, no
valor de cerca de R$ 10 bilhões. A transferência de tecnologia é um critério
chave na escolha do fabricante. Por causa de sua oferta de transferência
"irrestrita", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a
anunciar a escolha do avião francês Rafale, fabricado pela Dassault, mas recuou
diante da resistência da FAB. A maioria dos militares prefere o americano F-18,
da Boeing, como máquina de guerra. Mas os obstáculos para a transferência de
tecnologia são grandes entre os americanos, e os oficiais das áreas de pesquisa
e desenvolvimento insistem no sueco Gripen, da Saab-BAE.
A Embraer está desenvolvendo para a FAB um novo cargueiro de
20 toneladas, o KC-390, destinado a substituir os C-130 Hercules e a concorrer
com eles no mercado internacional. O custo estimado do projeto é de R$ 4,63
bilhões. Cada uma das três Forças receberá ainda 16 helicópteros de transporte
EC-725 Super Puma/Cougar, da Eurocopter, com capacidade para 2 tripulantes e 29
soldados com seu equipamento. O investimento de R$ 4,65 bilhões inclui a
transferência da tecnologia e o aumento progressivo de conteúdo nacional. Os
helicópteros serão fabricados pela Helibrás, subsidiária da Eurocopter.
A Marinha trabalha na construção de um reator nuclear de
geração de energia para a propulsão de submarino. O projeto, que envolve ainda
o enriquecimento de urânio, não só para o submarino mas também para a geração
de energia elétrica, está orçado em R$ 2,59 bilhões, e se estende até o ano
2025.
A Marinha mantém um programa de desenvolvimento de
submarinos, chamado de Prosub, no valor total de R$ 27,26 bilhões, também até 2025.
O projeto inclui um estaleiro para a construção de quatro submarinos
convencionais e um nuclear, além de uma base naval.
Outro programa da Marinha, no valor de R$ 18 bilhões, é a
construção de 11 navios - 5 fragatas, 5 escoltas e um de apoio. Seis países
disputam o contrato: Alemanha, Coreia do Sul, Espanha, França, Itália e
Inglaterra. Os navios devem ser construídos no Brasil a partir de um projeto
existente e já em operação. O fornecedor terá de transferir tecnologia a um
estaleiro brasileiro.
A maioria desses projetos foi gestada no fim do século
passado. Mas eles parecem ganhar mais impulso, com a ênfase na transferência e
desenvolvimento local de tecnologia, e a perspectiva de exportação. "Para
que uma empresa possa exportar, primeiro ela precisa fornecer para o governo de
seu país", observa Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e
Segurança. A exigência de conteúdo nacional por parte da FAB tem tornado
concorrentes da Embraer inelegíveis no Brasil.
Algumas empresas brasileiras que
se associaram a parceiros estrangeiros temem agora que o mesmo aconteça com
elas nas disputas com a Embraer por contratos com o Exército. O assunto é
delicado por causa do sigilo que encobre as escolhas e contratos feitos pelas
Forças Armadas.
No momento em que o Brasil deixa décadas de letargia na área
da defesa e se lança para a criação de um parque tecnológico e industrial para
o setor, muitas oportunidades surgem, e muitos desafios também, nas relações
entre o público e o privado. / L.S.
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