segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Aviõezinhos de antanho



Interessante texto de José de Souza Martins. Das personalidades citadas no texto, dois destaques meus:

1) Brigadeiro Eduardo Gomes
Para quem não leu, recomendo a leitura do livro "O Brigadeiro", de Cosme Degenar Drumond (Editora de Cultura).
2)  Dimitri Sensaud de Lavaud



Dimitri Sensaud de Lavaud foi piloto, inventor e engenheiro de ascendência francesa e nascido na Espanha. Em 1903 casa-se com a brasileira Bertha Rachoud e em 1916 naturaliza-se brasileiro.
Em 1908 Dimitri inicia os projetos e cálculos para a realização de seu grande sonho: construir seu próprio avião. Para a concretização do plano inicial ele construiu um hangar perto da casa de seu pai em Osasco, São Paulo, e pediu ajuda do auxiliar mecânico Lourenço Pelegatti.

Todas as partes do avião foram feitas no Brasil e com materiais do país. O motor foi construído em São Paulo sendo as hélices feitas com jequitibá. O esqueleto era feito de safarro de pinho e peroba, cobertura de cretone envernizado, grampos e cabos de aço e rodas de bicicleta.

A aeronave, batizada de São Paulo, fez o primeiro vôo da América do Sul em 07 de Janeiro de 1910 em Osasco. O aparelho voou durante 6 segundos e 18 décimos por 103 metros, variando entre 2 a 4 metros de altura. Devido a uma parada repentina do motor, Dimitri fez um pouso forçado sem nenhum tipo de dano.

Após o vôo com o avião São Paulo, Dimitri continuou trabalhando em novos equipamentos ligados principalmente ao automobilismo e aviação, sendo que, no período entre 1910 e 1930, teve cerca de 1200 invenções registradas. Seu último invento foi a embreagem elétrica para automóveis datada de 1946, um ano antes de sua morte.



Texto retirado do site do Museu da TAM (www.museutam.com.br) e imagem do apdobanespa.com.

Aviõezinhos de antanho

Nos começos da aviação, foi nos amplos terrenos baldios de São Paulo que se improvisaram campos de decolagem e pouso. Voar parecia fácil. Mimados e abonados da Pauliceia voavam, correndo riscos. Avião se chamava aeroplano, pouco mais do que um brinquedo. Montava-se avião no fundo do quintal. Havia passado a era romântica dos poetas que morriam de tuberculose, um triste verso final coroando métricas e rimas. O romantismo, agora, ia para os ares. Para os poetas do firmamento, morrer era parte da aventura da vida; a busca da morte era um passatempo. Eles teatralizavam os riscos, despertavam a admiração das mocinhas e a inveja dos marmanjos. Em pouco tempo, havia aviõezinhos nos parques de diversões, quase do mesmo tamanho das latas voadoras.

Era desse tipo o aeroplano utilizado pelo tenente Eduardo Gomes, na Revolução de 1924, para ir do Campo de Marte ao Rio de Janeiro jogar panfletos sobre a cidade, contra o governo, e uma bomba sobre o Palácio do Catete. O aparelho caiu num brejo em Cunha por falta d'água no radiador!

Um desses aviõezinhos caiu na Estrada da Boiada, hoje Avenida São Guálter, em Pinheiros. O piloto se salvou. Por aquela época, aeroplanos voavam por perto de onde é hoje a Cidade Universitária. Pousavam numa pista onde seria depois a raia olímpica e a Marginal. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) fazia pesquisas sobre madeiras brasileiras para fabricação de hélices. Ali começou a nascer o Paulistinha, célebre aeroplano de treinamento, que acabaria fabricado em Utinga, na Laminação Nacional de Metais, de Baby Pignatari. Nos anos 1940, ainda era comum ouvir seu zumbido de mamangava, nos domingos, sobrevoando romanticamente o subúrbio e os arrabaldes. 

Pousos e decolagens de jovens pilotos, na segunda década do século 20, eram realizados ou no Parque Antártica ou no Hipódromo da Mooca para audiências nervosas, com direito a gritinhos e aplausos. Foi um desses jovens, o francês Dimitri Sensaud de Lavaud, que fez em Osasco, no dia 7 de janeiro de 1910, o primeiro voo de um aparelho mais pesado que o ar na América do Sul. Lavaud e a família moravam no chalé que fora do banqueiro Giovanni Bricola, hoje museu. Ali tinha o pai uma fábrica de manilhas, em cuja oficina mecânica Lavaud ia montando seu aeroplano. Fez uma rampa de madeira no campo que ia do chalé na direção da estação de Osasco, onde fez naquele dia um voo de 103 metros, oscilando entre uma altura de 2 e 4 metros, até cair e quebrar a hélice. Por uma foto se vê que era uma gaiola de arame com um motor. E voava! 

Como voou e caiu, nos campos do Ipiranga, o planador do engenheiro Guido Aliberti e do seu irmão Aldo. Eram donos de uma fábrica de botões em São Caetano. Na queda, em setembro de 1930, Guido morreu. Assunto da página esportiva dos jornais.

JOSÉ DE SOUZA MARTINS - O Estado de S.Paulo - 10 de setembro de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário