A Força Aérea Brasileira (FAB) treina para utilizar Veículos
Aéreos Não Tripulados (VANT) em operações de guerra, mas seus aviões-robô
RQ-450 também são valiosos para tempos de paz, como na vigilância de
fronteiras, auxílio em situações de calamidade e ações de segurança. A
informação é do Brigadeiro Maximo Ballatore Holland, do Estado Maior da
Aeronáutica. "Além da aplicação militar propriamente dita, algumas das
características inerentes ao poder aeroespacial podem ser exploradas nas
aplicações civis", afirma.
O último teste dos VANT da FAB aconteceu durante a Rio+20,
quando o avião sem piloto transmitia imagens ao vivo para a central de
operações que cuidava da segurança do Rio de Janeiro. O cenário da estreia
operacional dos RQ-450, no entanto, foi na longínqua fronteira do Brasil com a
Colômbia. Ali, durante a Operação Ágata 1, em agosto de 2011, um VANT monitorou
pistas de pouso clandestinas que pouco depois foram bombardeadas por aviões de
caça.
De acordo com o Brigadeiro Ballatore, como os aviões-robô
são capazes de transmitir ao vivo imagens das áreas de interesse, é possível
ter uma nova dinâmica nas ações de comando, que permite um ganho maior de dados
de inteligência e uma tomada de ações mais rápida. "O ciclo de decisão é
reduzido, tornando-se um ponto. Podemos visualizar e tomar decisões ao mesmo
tempo", explica.
Em operações como a Ágata, quando além das Forças Armadas
participam órgãos de segurança pública e organizações como o Ibama e a Receita
Federal, a Força Aérea pode fornecer informações de acordo com a demanda de
cada um deles. As imagens transmitidas por enlaces digitais são obtidas em
cores ou em preto e branco, quando é usado o modo infravermelho que permite
identificar pessoas à noite ou sob as copas das árvores, por exemplo. Além
disso, os novos VANT têm sistemas de comunicações aperfeiçoados, designador
laser e são equipados com um radar de última geração que identifica alvos
moveis no solo, através da função denominada MTI (moving target inidicator). Um
radar deste tipo equipará o futuro avião de transporte da EMBRAER, o KC-390.
Por outro lado, quem está no solo tem dificuldades para
enxergar o RQ-450 em voo. Com 10,5 metros de distância entre as pontas das asas
e 6,1m de comprimento, a aeronave é pintada em cores claras e pode voar em
altitudes de até 5.500 metros. Seu ruído é bastante difícil de se ouvir do
chão. Cada voo pode durar até 16 horas, o suficiente para, se necessário, uma
dupla de aeronaves manter a vigilância de uma determinada área de interesse de
forma ininterrupta.
Doutrina
As duas primeiras unidades recebidas pela FAB estão alocadas
no Esquadrão Hórus, da Base Aérea de Santa Maria, no interior do Rio Grande do
Sul. Criado em 2011, a unidade já voou mais de 600 horas com seus RQ-450, em
treinamentos que têm como objetivo não apenas dominar a máquina, mas fazer o
que os militares chamam de "desenvolvimento de doutrina". Isto é: não
basta ter a aeronave no ar, é preciso saber como executar os voos. O Brigadeiro
Ballatore lembra ainda que a análise dos dados é outro desafio. "Também é
necessário ter a capacidade de processamento das informações, o que não é
simples",diz.
Uma das medidas já adotadas no Esquadrão Hórus foi a
definição de que somente aviadores podem ter o controle dessas aeronaves.
Apesar de não levar tripulantes a bordo, o RQ-450 é comandado por uma dupla de
militares que permanecem em uma cabine de controle no solo. Por este motivo, a
Força Aérea designa o avião-robô como uma Aeronave Remotamente Pilotada (ARP).
De fato, um mouse substitui o manche, mas o controle permanece nas mãos de
oficiais com experiência de voo, conhecimento das áreas de operação e
familiaridade com as regras de controle do espaço aéreo. É estreita a
coordenação da unidade aérea operadora dos ARP com os órgãos de controle,
subordinados ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), o que garante
a segurança dos voos.
Investimento de 48 milhões
O contrato de aquisição assinado com a empresa
Aeroeletrônica, subsidiária da israelense Elbit, foi assinado em 21 de dezembro
de 2010 e incluiu os dois RQ-450, uma estação de solo, sensores e a logística
inicial associada. O investimento foi de R$ 48.174.836,00. De acordo com a
Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), o projeto inclui
ainda importante nacionalização de itens, além das desejadas transferência de
tecnologia e compensações comerciais (off-set).
O planejamento da COPAC, no entanto, vai além dessa primeira
dupla de VANT. Considerados de pequeno porte frente aos modelos já
desenvolvidos em outros países, a ideia é utilizá-los para o desenvolvimento de
doutrina e daí partir para iniciativas mais audaciosas, como um VANT projetado
no Brasil.
No horizonte do planejamento da Força Aérea está o emprego
de armas em aviões deste porte e até a transmissão de dados dos VANT para
qualquer ponto do país com o uso de satélites também de fabricação nacional.
Fonte: Agência Força Aérea, 28 de setembro de 2012
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