Após enfrentar o seu pior problema operacional em quatro
anos de atividade, com 25 mil passageiros prejudicados por causa do
cancelamento de 470 voos da noite de sábado até o fim da tarde de ontem, no
Aeroporto Internacional de Campinas (Viracopos), a Azul Linhas Aéreas vai
manter a estratégia de concentrar quase 100% da sua operação nesse terminal.
"Noventa e cinco por cento dos aeroportos do mundo têm
apenas uma pista. Foi uma fatalidade, mas continuamos confiantes de que a nossa
estratégia, em Campinas, é acertada e vitoriosa", disse o diretor de
comunicação, marca e produto da Azul, Gianfranco Beting.
Durante a paralisação de Viracopos, 15 aviões da Azul, que
está em processo de fusão com a regional Trip, ficaram inoperantes (o
equivalente a quase um terço da frota). "O prejuízo foi de dezenas de
milhões de reais", acrescentou Betting. A Azul responde por 85% da
operação de Viracopos.
Da noite de sábado até o fim da tarde de ontem, um avião
cargueiro MD11, com 67 toneladas de carga e 18 metros de comprimento, da
Centurion Cargo, sediada em Miami, obstruiu a única pista de Viracopos, após
ter apresentado um problema na aterrissagem, quando o pneu esquerdo do trem de
pouso central furou. Com a explosão, houve uma fissura na pista e o avião teve
avarias, conta Beting. "Acho improvável a recuperação desse avião. A
turbina esquerda foi seriamente danificada", disse.
Curiosamente, diz o diretor da Azul, esse MD11 também
apresentou um problema com o trem de pouso em Montevidéu, em outubro de 2009.
Essa mesma aeronave foi operada pela primeira vez pela antiga Varig.
"O que aconteceu é uma fragilidade não da Azul, mas do
sistema", afirmou o professor de transporte aéreo da Escola Politécnica da
UFRJ, Respício Espírito Santo. Segundo ele, uma portaria de meados das décadas
de 80 e 90 permitia que a pista de taxiamento de Viracopos pudesse ser
utilizada para pouso e decolagem.
"Desde que ela [Azul] começou a crescer sem parar,
porque ela não pressionou a Prefeitura e a Assembleia Legislativa de Campinas
para se beneficiar dessa portaria? Essa é a parte dela na culpa do
sistema", acrescentou Respício.
A operação em Viracopos só foi retomada por volta das 17h30
de ontem, quando o avião da Centurion foi retirado da pista. Em nota, a Azul
informou que "embora as operações em Viracopos tenham sido liberadas,
atrasos e cancelamentos ainda poderão ocorrer como consequência do processo de
regularização da malha".
A Fundação Procon-SP fez ontem uma fiscalização em
Viracopos, para apurar se "os consumidores estavam sendo
respeitados". Também pediu um plano de ação para atender os passageiros.
Valor Econômico, 16 de outubro de 2012
Por Alberto Komatsu | De São Paulo
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