terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ex-presidente diz que futuro da BAE é incerto sem a EADS

Como alguém que trabalhou para a BAE Systems por 42 anos, Mike Turner, ex-presidente-executivo, está muito preocupado com seu futuro se a planejada união da companhia com a EADS não der certo.

Conhecido por sua franqueza, o executivo de 64 anos - que desde que deixou a BAE em 2008 assumiu o cargo de presidente dos conselhos de administração da GKN e da Babcock, dois grupos de engenharia que fazem parte do índice de ações FTSE 100 -, diz que as opções para a BAE como companhia independente não são nada boas.

A decisão mais provável para a BAE - sob o ponto de vista de Turner - seria ela vender suas grandes operações nos Estados Unidos, uma vez que isso repercutiria bem entre os acionistas. Tal medida iria "proporcionar uma soma significativa de dinheiro que poderia ser repassada para os investidores", explica ele.

"Mas isso a deixaria com as operações britânicas da companhia, que enfrentam dificuldades por causa da situação precária dos programas existentes [da indústria da defesa]", afirma.

Os problemas da parte britânica da BAE estão bem documentados. Enquanto as vendas da companhia no Reino Unido - principalmente para o Ministério da Defesa - responderam por apenas 20% de suas receitas de 19,1 bilhões de libras no ano passado, suas unidades e escritórios britânicos empregam 42% dos 83 mil funcionários que a companhia tem pelo mundo.

A carga de trabalho futuro no Reino Unido está sob pressão por causa do enxugamento do projeto do caça Typhoon para o Reino Unido e outros países, além da desativação gradual de dois grandes projetos para a Royal Navy, que inclui o programa de 5,2 bilhões de libras para a construção de dois navios porta-aviões.

Diante dessas perspectivas desanimadoras em seu principal mercado, Turner - que saiu da BAE após prolongadas altercações com Dick Olver, o presidente do conselho de administração da companhia - acredita que a iniciativa de união com a EADS deveria ser apoiada, pois daria à empresa um negócio mais forte e de maior alcance.

Turner se diz frustrado com os argumentos sobre o tamanho relativo das participações do governo na nova companhia proposta. Ele diz que essas preocupações são uma "distração" ligada a mal-entendidos.

Alguns observadores estão preocupados com os planos dos governos francês e alemão em possuir participações diretas ou indiretas - possivelmente somando uma fatia combinada de 27% -, enquanto que a participação do Reino Unido ficaria restrita a uma "golden share" em grande parte simbólica.

"Ela [a nova companhia] vai querer dar ouvidos aos pontos de vista dos governos francês, alemão e britânico, tendo eles participações ou não, porque trata-se de clientes muito importantes", afirma Turner.

O executivo observa que o governo dos Estados Unidos não tem participações em grandes companhias de defesa como a Boeing e a Lockheed Martin, mas ainda assim exercer "muita influência" sobre essas empresas. "Você acha que a Boeing e a Lockheed não dão ouvidos ao Pentágono?", pergunta ele.

Turner também defende a direção tomada pela BAE enquanto ela esteve sob seu comando, especialmente sua decisão de vender a participação de 20% que a companhia tinha na Airbus, a divisão aeroespacial civil da EADS, em 2006, e o esforço para realizar grandes aquisições na indústria de equipamentos militares dos Estados Unidos.

"Vender a participação da BAE na Airbus foi a decisão certa na época porque a Airbus enfrentava vários anos de dificuldades financeiras", diz Turner.

E os esforços para construir os interesses da BAE nos EUA foram um sucesso, diz Turner. "Todas as aquisições nos EUA geraram muito dinheiro para a BAE, antes de uma ou duas delas apresentar problemas financeiros nos últimos anos, como resultado do aumento da concorrência e dos cortes nos gastos com defesa."


Por Peter Marsh | Financial Times, de Londres (Valor Econômico, 9 de outubro de 2012)

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