Como alguém que trabalhou para a
BAE Systems por 42 anos, Mike Turner, ex-presidente-executivo, está muito
preocupado com seu futuro se a planejada união da companhia com a EADS não der
certo.
Conhecido por sua franqueza, o
executivo de 64 anos - que desde que deixou a BAE em 2008 assumiu o cargo de
presidente dos conselhos de administração da GKN e da Babcock, dois grupos de
engenharia que fazem parte do índice de ações FTSE 100 -, diz que as opções
para a BAE como companhia independente não são nada boas.
A decisão mais provável para a BAE
- sob o ponto de vista de Turner - seria ela vender suas grandes operações nos
Estados Unidos, uma vez que isso repercutiria bem entre os acionistas. Tal
medida iria "proporcionar uma soma significativa de dinheiro que poderia
ser repassada para os investidores", explica ele.
"Mas isso a deixaria com as
operações britânicas da companhia, que enfrentam dificuldades por causa da
situação precária dos programas existentes [da indústria da defesa]",
afirma.
Os problemas da parte britânica da
BAE estão bem documentados. Enquanto as vendas da companhia no Reino Unido -
principalmente para o Ministério da Defesa - responderam por apenas 20% de suas
receitas de 19,1 bilhões de libras no ano passado, suas unidades e escritórios
britânicos empregam 42% dos 83 mil funcionários que a companhia tem pelo mundo.
A carga de trabalho futuro no
Reino Unido está sob pressão por causa do enxugamento do projeto do caça
Typhoon para o Reino Unido e outros países, além da desativação gradual de dois
grandes projetos para a Royal Navy, que inclui o programa de 5,2 bilhões de
libras para a construção de dois navios porta-aviões.
Diante dessas perspectivas
desanimadoras em seu principal mercado, Turner - que saiu da BAE após
prolongadas altercações com Dick Olver, o presidente do conselho de administração
da companhia - acredita que a iniciativa de união com a EADS deveria ser
apoiada, pois daria à empresa um negócio mais forte e de maior alcance.
Turner se diz frustrado com os
argumentos sobre o tamanho relativo das participações do governo na nova
companhia proposta. Ele diz que essas preocupações são uma
"distração" ligada a mal-entendidos.
Alguns observadores estão
preocupados com os planos dos governos francês e alemão em possuir
participações diretas ou indiretas - possivelmente somando uma fatia combinada
de 27% -, enquanto que a participação do Reino Unido ficaria restrita a uma
"golden share" em grande parte simbólica.
"Ela [a nova companhia] vai
querer dar ouvidos aos pontos de vista dos governos francês, alemão e
britânico, tendo eles participações ou não, porque trata-se de clientes muito
importantes", afirma Turner.
O executivo observa que o governo
dos Estados Unidos não tem participações em grandes companhias de defesa como a
Boeing e a Lockheed Martin, mas ainda assim exercer "muita
influência" sobre essas empresas. "Você acha que a Boeing e a Lockheed
não dão ouvidos ao Pentágono?", pergunta ele.
Turner também defende a direção
tomada pela BAE enquanto ela esteve sob seu comando, especialmente sua decisão
de vender a participação de 20% que a companhia tinha na Airbus, a divisão
aeroespacial civil da EADS, em 2006, e o esforço para realizar grandes
aquisições na indústria de equipamentos militares dos Estados Unidos.
"Vender a participação da BAE
na Airbus foi a decisão certa na época porque a Airbus enfrentava vários anos
de dificuldades financeiras", diz Turner.
E os esforços para construir os
interesses da BAE nos EUA foram um sucesso, diz Turner. "Todas as
aquisições nos EUA geraram muito dinheiro para a BAE, antes de uma ou duas
delas apresentar problemas financeiros nos últimos anos, como resultado do
aumento da concorrência e dos cortes nos gastos com defesa."
Por Peter Marsh | Financial Times,
de Londres (Valor Econômico, 9 de outubro de 2012)
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