Por DANIEL MICHAELS
Dois anos atrás, para promover um avião militar de
transporte da European Aeronautic Defence & Space Co., Tom Enders, que hoje
comanda a empresa, pulou de paraquedas do novo jato, o Airbus A400M.
Ian King, diretor-presidente da empresa britânica de defesa BAE
Systems PLC, evita acrobacias, publicidade e risco de modo geral, dizem colegas
de longa data. Ex-executivo de finanças de uma empresa incorporada à BAE, King
é conhecido por ter acabado com estouros de orçamento comuns nos negócios
militares. Ele assumiu o comando da BAE em 2008 em meio a um escândalo de
corrupção, reduziu a possibilidade de uma crise maior e, desde então,
permaneceu basicamente longe dos holofotes.
Agora, Enders e King estão tentando criar a maior empresa
aeroespacial e de defesa do mundo. A fusão da Eads com a BAE reuniria duas
operações distintas chefiadas por dois homens igualmente distintos. Pessoas
próximas das empresas dizem que suas operações e seus líderes se complementam —
e não só pelo fato de King gostar de jogar golfe, e Enders, não.
Enders, um alemão de 53 anos que estudou na Universidade da
Califórnia em Los Angeles, adora o oeste americano e é visto por muitos como
uma espécie de caubói da gestão. Ele tem pouca paciência com sutilezas
políticas e gosta de polêmica — várias vezes, por exemplo, pediu aos governos
com participação na Eads e a líderes políticos da França e da Alemanha que
deixassem de tentar influenciar decisões de negócios do grupo. E voltou a
fazê-lo semana passada, depois de uma audiência sobre o possível acordo no
Parlamento alemão.
Enders assumiu a presidência da Eads em junho, depois de
cinco anos no comando da Airbus. Uma de suas primeiras medidas já irritou
autoridades alemãs: anunciou planos de acabar a tradição ineficiente do grupo
de ter uma sede em Paris e outra em Munique. No lugar, haveria uma só: em
Toulouse, na França, perto da sede da Airbus, a maior empresa da Eads.
Enders "não tem papas na língua", disse Nick
Witney, ex presidente da Agência de Defesa Europeia, braço de política militar
da União Europeia. "Ele é muito direto e muito trabalhador", disse
Witney, que lidava frequente com ele quando Enders dirigia a divisão de defesa
da Eads, no começo da década de 2000.
Já King, 56 anos, "é deliberadamente discreto",
disse Howard Wheeldon, diretor de política da ADS, associação da indústria de
defesa britânica. Wheeldon, que conhece King há muitos anos, disse que ele
"não tem um histórico de industrial que faz empresas crescerem" à
base de aquisições espetaculares. Em vez disso, King se concentra em custos e
rentabilidade, mesmo à custa do crescimento, disse Wheeldon.
Se a fusão for em frente, é provável que Enders assuma a
presidência e que King fique no comando do braço militar, segundo pessoas a par
das negociações. As empresas não disponibilizaram os executivos para uma
entrevista para este artigo.
Nas próximas semanas, os dois esperam buscar apoio político
na Europa e apresentar um plano a investidores, segundo pessoas próximas do
planejamento. As ações das duas empresas cairam desde que a negociação foi
anunciada, no dia 12 de setembro. Enquanto não anunciarem formalmente a
proposta, as duas estão proibidas de promover a fusão.
Se e quando houver um acordo, os dois presidentes dirão a
investidores que a união permitiria o corte de custos com insumos, compensar
ciclos de negócios diferentes nos setores aeroespaciais civil e militar e
combinar suas tecnologias como a concorrente americana Boeing Co. tem
conseguido fazer com suas divisões comercial, militar e espacial.
Eles também vão tentar convencer investidores de que têm o
currículo exigido para liderar a empresa. Enders, um major da reserva do
Exército alemão que tem mais de 1.000 saltos de paraquedas e brevê de
helicóptero, fala com desenvoltura tanto sobre questões de aviação militar como
civil.
Em 2007, quando Enders foi comandar a Airbus em meio a
disputas políticas e problemas de produção, muita gente temia que ele não
combinaria com a cultura da sede francesa da fabricante de aviões comerciais.
Mas Enders conquistou o respeito dos colegas pela disposição a ouvir e a
cooperar.
A nomeação de King para a presidência da BAE em 2008 também
foi questionada. King entrou no lugar de um negociador impetuoso e seu estilo
discreto, por vezes taciturno, parecia não combinar com a empresa. Mas
conquistou muitos dos céticos. "Ninguém quer ser pego [no elevador] com
ele", disse um ex-colega. "Mas ele tem a capacidade de fazer você se
sentir parte de uma equipe e querer encarar a próxima batalha".
Críticos de King dizem que a receita e a cotação das ações
da BAE ficaram estagnadas sob a batuta do executivo. Já partidários observam
que toda divisão da BAE é altamente rentável, registrando retorno de cerca de
10%.
Fonte: The Wall Street Journal / Valor, 30 de setembro de
2012
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