Por Da
Redação | The Wall Street Journal
As companhias aeroespaciais e de defesa BAE Systems PLC e
European Aeronautic Defence & Space Co. desistiram de sua planejada fusão
depois que Reino Unido, França e Alemanha não conseguiram chegar a um acordo
sobre quanta influência os países deveriam ter na empresa combinada.
A decisão de ontem encerrou vários meses de negociações cada
vez mais frenéticas das empresas para criar o maior grupo de defesa do mundo em
vendas.
A Eads, dona da fabricante de aviões Airbus, e a BAE puseram
a culpa nos políticos pela derrocada do acordo, apontando em particular para a
intransigência de Berlim, o que levanta novas questões sobre a capacidade dos
governos da Europa de colocar de lado interesses nacionais em projetos
conjuntos.
O desfecho também representou um fracasso pessoal para os
diretores-presidentes das companhias, Tom Enders, da Eads, e Ian King,da BAE
Systems, que lutaram com afinco pelo negócio.
King ficou especialmente sob pressão de alguns de seus
acionistas que achavam que a fusão com a Eads ia de encontro aos interesses do
grupo britânico.
"Ficou claro que os interesses dos acionistas
governamentais não podem ser propriamente conciliados entre si e com os
objetivos que a BAE Systems e a Eads estabeleceram para a fusão",
afirmaram as companhias num comunicado conjunto.
"Nós não pudemos chegar a um acordo com os dois
governos europeus sobre os nossos limites de segurança. É correto dizer que a Alemanha
foi o principal ponto de conflito", disse King.
O presidente da França, François Hollande, assumiu uma
posição neutra em relação ao colapso da fusão. "Não cabe a nós lamentar ou
comemorar", disse Hollande numa entrevista coletiva em Paris. "Eu noto
simplesmente que houve discussões entre essas empresas. A França apresentou um
certo número de argumentos e condições, nossos colegas alemães colocaram um
critério, os britânicos fizeram o mesmo, e as companhias tiraram suas
conclusões."
A França e a Espanha são acionistas da Eads, com 15% e 5,5%
de participação, respectivamente. A Alemanha não tem participação direta na
Eads, mas a montadora alemã Daimler AG tem 15% e já estava vendendo grande
parte disso a um banco estatal alemão.
A fusão teria criado uma empresa com uma receita anual
combinada de mais de US$ 90 bilhões e um valor de mercado de quase US$ 50
bilhões em 12 de setembro, quando o negócio foi anunciado. Os acionistas da
Eads ficariam com 60% e os da BAE com o restante. As empresas pretendiam listar
a nova entidade nas bolsas de Londres e Amsterdã.
Embora algum progresso havia sido feito nas conversas entre
Reino Unido, França e Alemanha na terça-feira, os governos foram incapazes de
chegar a um acordo final sobre as participações de cada país, a composição do
conselho e a localização da sede da empresa.
As reações dos investidores e analistas foram conflitantes e
a ação da Eads recuperou parte do que perdeu desde que a notícia da fusão foi
divulgada, enquanto a ação da BAE caiu. Desde o anúncio dos planos de fusão, o
mercado havia demonstrado ceticismo quanto ao negócio derrubando as ações de
ambas as empresas.
"Um dia triste para a defesa europeia", escreveu
Robert Stallard, analista do RBC Capital Markets, num relatório de análise.
"Nós sempre acreditamos que esse negócio era benéfico para o setor de
defesa da Europa, que continua relativamente fragmentado e com um orçamento
significativamente menor que o dos Estados Unidos."
Um porta-voz da Invesco Perpetual, uma unidade da Invesco
Ltd., que é a maior acionista da BAE Systems com uma participação de 13,3%,
aplaudiu o fracasso da fusão, depois de a empresa ter declarado na semana
passada que o acordo colocaria em risco a capacidade da BAE de obter contratos
de defesa nos EUA.
King e Enders disseram que suas companhias têm um futuro
promissor como entidades independentes.
A BAE é "forte e robusta financeiramente", disse
King.
"A Eads vai continuar no seu caminho de crescimento
internacional e nossos acionistas podem continuar esperando crescimento
lucrativo, excelente liquidez e execução de programas baseados numa forte
carteira de encomendas", disse Enders.
A Eads foi apoiada publicamente pelo presidente francês.
"Eu tenho confiança na Eads, que é muito bem-sucedida e gera
emprego", disse Hollande.
O governo da Alemanha afirmou que resolver um impasse de
longa data sobre a participação alemã na Eads é agora uma prioridade.
"Para o governo federal, é agora prioritário que a Eads
continue a se desenvolver positivamente em todas as áreas de negócios",
disse num comunicado o porta-voz do governo alemão Steffen Seibert. "Para
garantir isso, o governo vai, entre outras coisas, continuar negociações sobre
a aquisição de ações em poder da Daimler através do KfW." O KfW é um banco
estatal de desenvolvimento que o governo geralmente usa para cuidar das suas
participações.
A proposta de fusão, que foi negociada durante três meses,
morreu num telefonema de três minutos.
Na terça-feira à noite, depois de dias de intenso debate
entre representantes de governos e executivos, a chanceler alemã Angela Merkel
ligou para Hollande. Ela lhe disse que a Alemanha acreditava que o negócio
tinha mais aspectos negativos do que positivos para seu país, e que ela não o
iria apoiar, segundo várias pessoas a par da conversa.
"Nós tivemos a oportunidade de testar uma estratégia
bastante audaciosa", disse ao The Wall Street Journal Dick Olver,
presidente do conselho da BAE, depois do anúncio do fim das negociações.
A resistência da Alemanha, em particular, surpreendeu muitas
pessoas envolvidas porque as companhias acreditavam que tinham um plano que
faria da Eads, que é controlada por governos, uma companhia mais convencional.
"Eu subestimei completamente a oposição alemã", disse Marwan Lahoud,
diretor de estratégia da Eads, ao WSJ.
Pessoas familiarizadas com o raciocínio em Berlim disseram
que governantes alemães duvidavam de um dos principais argumentos apresentados
a eles em defesa da fusão: o de que o acordo aumentaria as vendas de produtos
de defesa da Eads nos Estados Unidos.
A Alemanha também temia acabar marginalizada pela França e
pelo Reino Unido, que são maiores nos setores aeroespacial e de defesa. Os três
países queriam proteger empregos e unidades industriais. A França queria manter
suas ações da Eads, enquanto os britânicos queriam reduzir a influência
política.
As empresas agora têm o desafio de reconstruir as relações
entre acionistas e governos.
(Colaboraram
William Boston, William Horobin, Matthew Curtin, Daniel Michaels, David
Gauthier-Villas, Dana Cimilluca, Marcus Walker e Marietta Cauchi)
Sessão WSJ do Valor Econômico, 11 de outubro de 2012
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