As empresas aéreas brasileiras patinaram no mercado internacional de passageiros nos últimos 12 anos. Entre agosto de 2000 e o mesmo mês deste ano, a demanda capturada pelas companhias nacionais nesse segmento avançou apenas 13,4%, mostram dados do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea).
O fraco desempenho contrasta com os números registrados no
mercado doméstico, em que a demanda mais do que triplicou no mesmo período,
puxada pela ascensão de 40 milhões de pessoas para a classe C somente entre
2005 e 2012.
Para especialistas, o tímido desempenho das empresas
brasileiras mostra que elas têm perdido espaço para as estrangeiras,
especialmente depois da queda da Varig, que até 2006 tinha grande presença no
segmento internacional. Com menor escala e custos mais elevados do que os de
seus pares no exterior, acabam tendo dificuldade para concorrer de igual para
igual.
Em 2000, as empresas brasileiras respondiam por 46% do
tráfego internacional, enquanto as estrangeiras detinham 54%. Em 2010, só para
a Europa, por exemplo, as estrangeiras tinham uma fatia de 76,8%.
"O ambiente internacional é muito competitivo em termos
de tarifas e economicidade. Empresas com maior escala, mais frequências e
destinos conseguem ter otimização de rede que dificilmente as entrantes (empresas
que estreiam no serviço) atingem", diz o professor Marco Aurélio Cabral,
da Universidade Federal Fluminense.
Ofertas. A agressividade das companhias aéreas
internacionais no Brasil é visível pelas ofertas que têm despejado no mercado.
Esta semana, a companhia americana Delta Airlines vendia passagens do Rio de
Janeiro para Paris, passando por Nova York, por menos de R$ 1.300, ida e volta.
A europeia Condor oferecia bilhetes para voos diretos com destino a Frankfurt e
à capital francesa por valores similares.
A Gol avalia que a pequena expansão vista no mercado
internacional nos últimos anos é resultado de uma sucessão de crises
financeiras que afetaram negativamente o desempenho do setor. Mas, apesar de
reconhecer que a concorrência com as estrangeiras vem crescendo especialmente
no corredor Brasil-EUA, a empresa começa a direcionar suas atenções para esse
nicho.
Após anos concentrando suas operações na América do Sul e no
Caribe, em fevereiro deste ano a empresa pediu autorização da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) para voar para Miami, nos Estados Unidos. Cautelosa, a
Gol ofereceu os voos inicialmente apenas para os clientes de seu programa de
fidelidade, o Smiles. Mas, agora, pretende lançar voos regulares via Santo
Domingo, na República Dominicana. A ideia da empresa é vender bilhetes também
no mercado local apenas para o último trecho do voo.
A reticência das empresas brasileiras em entrar mais
amplamente na disputa pelo mercado internacional de longo curso tem um motivo.
Por envolver viagens de longa distâncias, os riscos de perdas são maiores.
"Um avião que decola vazio de São Paulo para Londres vai perder durante
doze horas. Numa ponte aérea, perde-se por 30 minutos", diz o consultor
Nelson Riet.
Procurada, a TAM não quis se pronunciar sobre a fraca
participação das companhias brasileiras na disputa pelo mercado aéreo
internacional.
O Estado de São Paulo, 20 de outubro de 2012
Glauber Gonçalves / RIO
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